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Eliade: um episódio de Percival
quinta-feira 26 de junho de 2025
A lenda de Parsifal contém um dos episódios mais significativos: o Rei Pescador (li reis peschëors) está doente e ninguém pode curá-lo. É uma doença muito estranha: desânimo, envelhecimento, fraqueza extrema. Numerosas hipóteses foram tecidas a esse respeito. Segundo certos textos medievais, sobre o Graal prevalecia ou tinha, de qualquer forma, uma relação direta com o sagrado cálice levado à Europa — diz a lenda — por José de Arimateia. Este não é o lugar adequado para estudar o sentido simbólico do "título" de Rei Pescador (li riche pescheür). Basta recordar que o peixe simbolizava a renovação, a ressurreição, a imortalidade. O cálice do Santo Graal confunde-se às vezes com o pescador rico, como no José de Arimateia de Robert de Boron. Por outro lado, elementos nórdicos, celtas, intervieram também na lenda. A tradição céltica fala de um "peixe da sabedoria" (salmon of wisdom) que pode ser associado ao Graal ou ao Rei Pescador (A. Nutt, Studies on the Legend of the Holy Grail, Londres, 1888).
A doença do Rei Pescador implica a esterilidade nos arredores do castelo onde morre o misterioso soberano. Os rios não correm mais em seu leito, as árvores já não reverdecem, a terra não dá mais frutos, os grãos já não germinam. É terrível e incompreensível que as aves já não se acasalem, que as pombas languidezam e desabem tocadas pela asa da morte. O castelo mesmo ameaça ficar em ruínas. As muralhas rangem lentamente corroídas por uma potência invisível: as pontes levadiças apodrecem, as pedras soltam-se das muralhas e caem feitas pó, como se os séculos fossem instantes.
Desde os quatro cantos do mundo chegam sem cessar os cavaleiros, atraídos pelo renome do Rei Pescador. Mas o estado de abandono do castelo e a misteriosa doença do rei os surpreende tanto, que se esquecem da questão que os havia levado até lá: em vez de indagar sobre o Graal, do lugar onde encontrá-lo, aproximam-se confusos do enfermo, interrogam-no e reconfortam-no. Com cada visita de um cavaleiro, o mal do rei piora e o reino fica um pouco mais devastado. Quando os cavaleiros passam a noite no castelo, são encontrados mortos na manhã seguinte.
Assim, Parsifal vai ver em sua torre o Rei Pescador sem saber que está doente. Entre parênteses, acrescentemos que Chrétien de Troyes em seu Parsifal obstina-se em tornar tolo seu herói. Para tentar exaltar a graça divina que transfigura o paladino, esforça-se em descrever Parsifal o simples ou, diz Nutt, o Great Fool, um tipo bem conhecido do folclore universal (cfr. Eugène Anitchkof, Joachim de Fiore et les milieux courtois, Roma, 1931). A partida de Parsifal é risível: os demais cavaleiros zombam ao vê-lo montar seu cavalo e passar atulhado. Não há nada mais ridículo para um cavaleiro que valer-se de um chicote, de um galho, para fazer avançar seu cavalo? No castelo, seus modos rústicos o tornam cômico e divertem a corte. Não apenas é rude, mas francamente tolo. Quando encontra uma jovem, precipita-se para abraçá-la e diz-lhe que estava obrigado pela cortesia.
Não é o Parsifal visto por Chrétien de Troyes um admirável protótipo do Dom Quixote? Têm aventuras idênticas e suas psicologias correspondem-se. Assim, por exemplo, o rocim de Parsifal e sua grotesca partida (sua mãe tenta detê-lo, para que o ridículo não o cubra na corte do rei!), ou a cena onde abraça a jovem. Mas o mais revelador é a estupidez dos dois cavaleiros errantes. Por trás de tal estupidez e ridículo, vemos operar a Graça (com Parsifal) e o Sonho (com Dom Quixote). Que pena que Unamuno, que havia lido tudo, não conhecesse as deliciosas descrições de Chrétien de Troyes! O cavaleiro da triste figura teria encontrado um admirável companheiro neste Parsifal o simples — que não obedece a todas as regras da cavalaria, mas a Graça que o habita transfigurará a cavalaria medieval em um novo tipo humano.
Voltemos enquanto isso ao castelo do Rei Pescador, a cuja torre chega Parsifal. Em sua primeira visita, conduz-se como os outros, como um "enviado". Parte novamente, mas dizem-lhe que deveria ter perguntado ao Rei Pescador sobre o Graal. "Se ao menos lhe tivesses perguntado o que deveria ser feito, o que ajudaria o rei a sair de sua doença e a devolver-lhe sua juventude". De fato, na segunda ocasião, quando faz ao rei a pergunta correta, a pergunta necessária, este cura-se e rejuvenesce milagrosamente. "O Rei Pescador melhora e sua natureza volta à plenitude". Ao mesmo tempo, as muralhas do castelo reconstroem-se e o reino regenera-se.
Numa lenda paralela, quando sir Gawain lança-se à busca da lança sangrenta, a que traspassou o lado do Redentor na cruz (e em consequência, um substituto ou complemento do Graal), "os rios voltam a correr em seu leito e os bosques reverdecem".
Falta apenas uma pergunta para que os milagres se cumpram, mas esta não é feita. Ninguém a faz; nenhum cavaleiro do Graal seria tão tolo a ponto de ignorar a decência (quem quer interrogar um enfermo em tal estado?) para mergulhar no mistério do Santo Cálice; a doença do rei pioraria e o ritmo da vida cósmica alterar-se-ia. Esta não seria uma pergunta banal como todas as que fazem os cavaleiros diante de Parsifal, mas a pergunta correta, a única que se espera, a única que pode dar frutos. As perguntas prévias haviam nascido da surpresa ou da cortesia, não da necessidade imediata de conhecer a verdade e a salvação — e é isso que simbolizava o Santo Graal no mundo medieval: a verdade e a salvação. Parsifal, instalado no castelo para empreender a busca do Graal, faz uma única pergunta: a correta, aquela que tem por único efeito precisar. Ora, antes que se lhe responda, que se lhe diga onde se encontra o cálice, o simples enunciado da pergunta correta acarreta já uma regeneração cósmica em todos os níveis da realidade: os rios correm, os bosques reverdecem, a terra recupera sua fertilidade e o rei sua virilidade e sua juventude.
Este episódio da lenda de Parsifal é significativo da condição humana. Nosso destino obstina-se em que não façamos a pergunta correta, a que é necessária e urgente, a única que conta e que pode render frutos. Em vez de perguntarmo-nos — em termos cristãos — onde se encontra a verdade, o caminho e a vida, preferimos perder-nos num labirinto de perguntas e reflexões que efetivamente possuem algum encanto e até certas qualidades, mas que não enriquecem realmente nossa vida espiritual.
Este episódio explica admiravelmente o seguinte: mesmo antes que se tenha obtido uma resposta satisfatória, uma pergunta corretamente feita regenera e fertiliza, e não apenas o ser humano mas o Cosmos inteiro. Nada ilustra melhor a falência do homem ao recusar interrogar-se sobre o sentido de sua existência que esta imagem da natureza sofrendo à espera de uma pergunta adequada. Temos a crença de que naufragamos sós, um a um, porque não queremos perguntar-nos onde está a verdade, o caminho e a vida. Acreditamos que nossa salvação ou nosso naufrágio dependem pessoalmente de cada um. Pensamos que nossa problemática, boa ou má, não compete a ninguém mais que a nós; mas isso é falso. A solidariedade dos homens existe em níveis muito ínfimos, em seus instintos ou em seus interesses econômicos, mas também existe em seu destino espiritual. Para uma pessoa que vive entre os homens será difícil buscar a salvação sozinha se os que a rodeiam não pensam o mesmo. Um pensador tão profundo e original como Orígenes, não duvidava em afirmar que os homens se redimiriam juntos (apokathastasis) e não isoladamente cada um. Sobre este ponto é difícil dizer se tinha razão ou não; de qualquer forma, o ecumenismo permanece como o ideal de qualquer forma de vida cristã.
Interpretando este episódio de Parsifal, poderíamos dizer que toda a natureza padece a indiferença do homem devido a esta pergunta central. A solidariedade ultrapassaria todo o conjunto da comunidade humana da qual fazemos parte, para estender-se à vida cósmica que nos circunda, seja animada ou aparentemente inanimada. A paideurna sofre e altera-se por causa de nossa insignificante falência. Quando perdemos tempo com futilidades e questões ociosas, não nos matamos apenas a nós mesmos, à semelhança dos cavaleiros frívolos no castelo do Rei Pescador; também matamos um pouco uma parcela do Cosmos. Quando o homem esquece de perguntar-se onde se encontra a fonte de sua salvação, as colheitas desaparecem e — caladas — as aves afligem-se. Que supremo símbolo da solidariedade do homem com o Cosmos!
À luz deste episódio de Parsifal, os homens que não duvidam em interrogar-se e perguntar-se pela verdade e pela vida adquirem subitamente uma importância fundamental. As questões que perturbam os sonhos e os dramas que atormentam suas almas sustentam e nutrem uma nação inteira. Graças ao sofrimento destes estranhos eleitos, a cultura de cada nação torna-se fecunda e vitoriosa, e a história abre caminho através do tempo. Os homens vivem com boa saúde graças às perguntas que fazem aqueles que, como Parsifal, padecem por nossa preguiça espiritual. Além disso, sem eles, a natureza empobreceria, dessecada por nossa falta de inteligência, de generosidade e de audácia. Quero crer — como me fez entender Parsifal — que nos encontraríamos infecundos e doentes no dia de amanhã, à imagem da vida no reino do Rei Pescador, se não existissem em cada país, em cada momento histórico, alguns homens intrépidos, espíritos iluminados que fazem a pergunta correta.

