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Babel, mito recursivo da confusão de línguas (Schubert)
sexta-feira 18 de abril de 2025
Apresentação de Patrick Valette (Schubert1982)
Depois de traçar o destino da natureza e do homem em um cenário dramático característico de toda teosofia autêntica, o autor propõe examinar as consequências dessa confusão de línguas. Elas são múltiplas e, mais uma vez, percebemos uma influência martinista inegável. Primeiro, a natureza tornou-se o receptáculo do amor que o homem, inicialmente, dedicava a Deus. Porém, ao perder sua transparência original — seu valor simbólico —, a natureza tornou-se opaca (Saint-Martin Saint-Martin Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803) afirma que a matéria "se coagula").
O universo tornou-se, assim, indecifrável, e o homem já não é capaz de compreender essa linguagem — esse hieróglifo, como diz Schubert Schubert Gotthilf Heinrich von Schubert (1780-1860) , seguindo Saint-Martin Saint-Martin Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803) —, resultando na atual dicotomia entre o ser humano e a natureza, um estado de separação dolorosamente sentido pelos românticos. Privado do livro no qual lia a palavra divina, o homem está cego e isolado. Outra consequência dessa catástrofe foi o surgimento, na natureza, de características antagônicas, ou seja, sexuais, muito marcadas. A segunda edição da Symbolique (1821) dedica bastante espaço à explicação dessa anomalia no mundo vegetal: "Os tipos vegetais mais antigos do nosso globo [...] não apresentam qualquer diferenciação sexual." No reino animal: "O elefante, o representante mais perfeito do mundo animal primitivo, é, entre todos os animais que conhecemos, o mais casto".
Para Schubert Schubert Gotthilf Heinrich von Schubert (1780-1860) , como para muitos teósofos, o mundo original desconhecia a diferença dos sexos, e o homem era aquele "andrógeno com corpo glorioso" sobre o qual falam Böhme, Saint-Martin Saint-Martin Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803) e Baader.
Essa ruptura que o autor observa na natureza encontra seu reflexo na alma humana. Ela também está fragmentada, pois suas manifestações tornaram-se ambíguas: "O que deveria ser a linguagem da vigília é agora, para nós, a obscura linguagem do sonho; a região do sentimento, mesmo do mais profundo e puro em sua origem, a região da alma é, enquanto reside nesse instrumento tensionado por cordas duplas e terrivelmente diferentes, uma região repleta de perigos."
O homem já não pode confiar nas mensagens de sua alma, porque ela se tornou verdadeiramente suspeita. Consequentemente, os vestígios divinos que os estados de inconsciência e relaxamento da vontade nos revelavam estão marcados pela mesma maldição: "Quando o sonho, a poesia e a revelação falam em nós a linguagem do sentimento e do amor, eles despertam, junto com a aspiração eterna e divina, as inclinações e desejos sensuais; a própria fonte da vida está envenenada."
Simultaneamente, a poesia, essa "língua originária da humanidade", transformou-se em uma prosa fria, e, como única consolação, temos agora apenas um meio de expressão: nossa linguagem articulada feita de palavras, que, em comparação com essa linguagem metafórica, representa uma regressão significativa e se torna a imagem da perda de nossos poderes primitivos.

