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Agamben (2011) – facticidade

quinta-feira 26 de setembro de 2024

[...] Visto que a grande novidade do pensamento de Heidegger (que em Davos não escapou aos observadores mais atentos, como Rosenzweig e Lévinas) era criar resolutamente raízes na facticidade. Como a publicação dos cursos dos primeiros anos vinte já mostrou, a ontologia apresenta-se desde o início   em Heidegger como uma hermenêutica   da vida   fáctica (faktisches Leben). A estrutura   circular do Dasein, elo qual compromete-se, nos seus modos de ser  , o seu próprio ser  , não é mais que uma formalização da experiência essencial da vida fáctica, na qual é impossível distinguir entre a vida e a sua situação efetiva, entre o ser e os seus modos de ser, e na qual todas as distinções da antropologia tradicional (como aquelas entre espírito e corpo  , sensação e consciência  , eu e mundo  , sujeito e propriedade) desaparecem. A categoria central da facticidade não é, na verdade  , para Heidegger (como ainda era, ao contrário, para Husserl) a Zufälligkeit, a contingência, pela qual alguma coisa é de um   certo modo e em um certo lugar, mas poderia ser alhures ou de outro modo, mas a Verfallenheit, a dejeção, que caracteriza um ser que é e tem por ser os seus próprios modos de ser. A facticidade não é simplesmente o ser contingentemente de um certo modo e em uma certa situação, mas o assumir decidido deste modo e desta situação, no qual o que era doação   (Hingabe) deve ser transformado em missão (Aufgabe). O Dasein, o ser-aí que é o seu aí, vem assim a colocar-se em uma zona de indiscernibilidade com relação a todas as determinações tradicionais do homem  , das quais assinala a definitiva queda  . [...]

[AGAMBEN, G. Estado de exceção: homo sacer, II, I. Iraci D. Poleti. 2. ed ed. São Paulo: Boitempo, 2011]


Ver online : Giorgio Agamben