CCampo1987
O caminho do conto de fadas começa sem esperança terrena. O impossível é imediatamente figurado pela montanha, e para simplesmente decidir enfrentá-la é necessário um sentimento que funcione como um ponto arquimédico fora do mundo. “Qualquer coisa, contanto que salve minha mãe”, é a fórmula simbólica que abre a porta para a quarta dimensão. Ela realiza aquilo que um místico disse sobre a oração: arranca, por assim dizer, a montanha de sua base, virando-a sobre seu topo. A partir (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Cristina Campo – Caminho do conto de fadas
17 de maio, por Murilo Cardoso de Castro -
Cristina Campo – Rosa
17 de maio, por Murilo Cardoso de CastroCCampo1987
Acusar os fabulistas franceses de frivolidade por enfeitarem suas fadas com plumas de avestruz significa "ter visão, mas não percepção". Era justamente essa percepção que uma Madame d’Aulnoy possuía, captando nas vozes do povo os mistérios mais delicados, quase sem se dar conta, como em um sonho, tal como se colhe um trevo-de-quatro-folhas num campo. (Não assim os irmãos Grimm, que, explorando metodicamente folclore folha por folha, encontraram muitos também, mas no meio de uma (…) -
Milloué (1905) – Shiva
14 de maio, por Murilo Cardoso de CastroMilloué1905 Shiva: O Novo e Enigmático Deus
Shiva é um recente na mitologia brâmane, aparecendo tardiamente nos textos. Alguns estudiosos sugerem que ele possa ter origem dravidiana (pré-ariana), baseando-se em:
Seu caráter vingativo e cruel em muitas lendas.
Sacrifícios sangrentos em seu culto.
Associação com divindades femininas e práticas consideradas "selvagens" para o padrão védico.
No entanto, seu papel como destruidor também se encaixa na tríade cósmica (…) -
Milloué (1905) – Avatares
14 de maio, por Murilo Cardoso de CastroMilloué1905
Estas encarnações, chamadas Avatares, variam frequentemente em nomes, número e detalhes conforme a intenção ou imaginação dos autores dos relatos. No entanto, o Bhagavata Purana, considerado a autoridade no assunto, lista vinte e dois Avatares, enquanto os tratados ortodoxos geralmente mencionam apenas dez principais:
Matsya (Peixe)
Salvou Manu Vaivasvata do dilúvio.
Um peixe pequeno, que cresceu até tamanho colossal, guiou o barco de Manu ao Himalaia.
Após o dilúvio, (…) -
Milloué (1905) – Vishnu: Deus Benevolente e Protetor
14 de maio, por Murilo Cardoso de CastroMilloué1905
Vishnu surge como o deus bom, preservador e protetor da criação, essencialmente benevolente. Sua ira só se manifesta contra inimigos dos deuses e da humanidade — demônios, tiranos ou ímpios. Ele parece ter herdado os principais atributos e funções de Indra como protetor dos áryas, uma conexão que se justifica pelo papel de aliado e alter ego que lhe é atribuído em alguns hinos do Rigveda.
O Caráter de Vishnu na Literatura Posterior
Nos textos brâmanes e hindus, Vishnu se (…) -
Milloué (1905) – Brahma
14 de maio, por Murilo Cardoso de CastroMilloué1905
Nessa combinação trinitária — que pode nos parecer arbitrária, mas na verdade decorre da teoria da influência irresistível das três Gunas, personificadas em divinitades —, Brahma é definitivamente sacrificado.
O Declínio de Brahma
Apesar de receber epítetos como "Ser Supremo", "Soberano Senhor do Mundo" e "Grande Ancestral das Criaturas", ele se torna:
Um deus secundário, mera emanação do Verdadeiro Ser Supremo (Vishnu ou Shiva, conforme a seita).
Sem energia nem (…) -
Milloué (1905) – Brahma, Vishnu, Shiva
14 de maio, por Murilo Cardoso de CastroMilloué1905
À primeira vista, um observador superficial poderia pensar que o Hinduísmo não alterou em nada a antiga mitologia dos Brâmanas e dos Vedas. E, de fato, encontramos em suas escrituras sagradas e profanas todos os antigos deuses — Indra, Agni, Varuna, Soma, os Ashvins, etc. — com suas funções e atributos habituais. Os Purânas até expandem suas lendas com certa complacência, muitas vezes destacando aspectos desfavoráveis, como os desejos lascivos atribuídos a eles, especialmente a (…) -
Milloué (1905) – Três Mundos
14 de maio, por Murilo Cardoso de CastroMilloué1905
Esses diversos relatos de criação nos conduzem naturalmente a mitos cosmogônicos que, assim como outros, eram desconhecidos nos Vedas; pois dificilmente se poderia aceitar, mesmo como um rudimento primitivo de cosmogonia, a simples menção dos "Três Mundos"—céu, ar ou atmosfera, e terra. Com os Brâhmanas, surge um sistema de cosmogonia e cosmologia não menos mítico, mas mais elaborado do que o dos Vedas, inspirado, sem dúvida, pelos novos dados da mitologia.
A terra—que (…) -
Milloué (1905) – A concepção de um Ser Supremo
14 de maio, por Murilo Cardoso de CastroMilloué1905
A concepção de um Ser Supremo, eterno ou pelo menos anterior ao mundo, criador do universo — Prajapati, Purusha ou Brahma.
A Origem da Ideia do Ser Supremo
O ponto de partida dessa concepção parece ser o hino 90 do décimo Mandala do Rigveda, onde os deuses sacrificam Purusha ("O Masculino do Sacrificio") para formar o universo com os fragmentos de seu corpo. Porém, nesse hino, os deuses coexistem com Purusha, em vez de serem suas criações ou emanações, como nos mitos (…) -
Milloué (1905) – Deuses dos Céus: Surya, Agni, Varuna, Soma
14 de maio, por Murilo Cardoso de CastroMilloué1905
Surya mantém suas funções como deus do sol, às quais acrescenta os papéis de gerador e fecundador, assimilando definitivamente os mitos similares de Savitri e Pushan, permanecendo e sempre permanecerá como um dos maiores deuses do panteão indiano.
Por outro lado, Agni, Varuna e Soma sofrem um declínio acentuado.
Agni, talvez por ser difícil de antropomorfizar devido à sua forma material sempre visível, embora mantenha seu lugar e culto em todas as casas como deus do lar, (…)