Últimas notas
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29 de junho
Fernando Pessoa – Soneto XIV
Sonnet XIV
Nascemos ao pôr do sol e morremos antes da manhã, E conhecemos toda a escuridão do mundo, Como adivinhar sua verdade, nós que nascemos na escuridão, A obscura consequência da ausência de brilho? Somente as estrelas nos ensinam a luz. Apreendemos Suas pequenezas espalhadas com (…) -
29 de junho
Fernando Pessoa – Soneto I
Sonnet I
Se escrevemos ou falamos ou apenas olhamos, somos sempre inaparentes. O que somos não pode ser trasfundido em palavra ou livro. Nossa alma está infinitamente longe de nós.
Por mais que demos a nossos pensamentos a vontade de ser nossa alma e a gesticulem por aí, nossos (…) -
29 de junho
Fernando Pessoa – S de serpente
Horizontal, a S. deitada, contraria à ascensão.
Caminho da evitação (ascensão por evitação, attainment by avoidance).
O duplo SS pode ser, por exemplo, Shakespeare.
(x) A S. não se «ergue»; ergue só a cabeça. (?)
Letras da S. (?) R (cabeça) S (corpo) C (cauda).
Intercalar o EA RUX (?) (…) -
28 de junho
Fernando Pessoa – Sobre o pensamento grego
1 — Como as crianças com os seus bonecos e cavalos, os gregos começaram por deificar os grandes fenômenos da Natureza, e particularmente os que têm na vida humana uma influência benéfica ou destrutiva: a Terra e a Fecundidade, a Luz, a Tempestade, o Sol, a Noite, a Lua.
2 — As coisas (…) -
28 de junho
Fernando Pessoa – Parmênides e a eternidade do ser
Quando Parmênides diz que o Ser é eterno, baseando-se na asserção de que o Ser não se pode tornar Não-Ser, introduz no argumento a secreta noção do tempo, ou pelo menos de devir. Mas devir não é ser — é-lhe mesmo oposto.
O verdadeiro argumento é o seguinte: o Ser não é temporal porque não pode (…) -
28 de junho
Fernando Pessoa – inteligência analógica
Todos os símbolos e ritos dirigem-se, não à inteligência discursiva e racional, mas à inteligência analógica. Por isso não há absurdo em se dizer que, ainda que se quisesse revelar claramente o oculto, se não poderia revelar, por não haver para ele palavras com que se diga. O símbolo é (…)
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28 de junho
Guimarães Rosa (GSV) – O demo
Além! Mas, daí, um pensamento — que raro já era que ainda me vinha, de fugida, esse pensamento — então tive. O senhor sabe. O que me mortifica, de tanto nele falar, o senhor sabe. O demo! Que tanto me ajudasse, que quanto de mim ia tirar cobro? — “Deixa, no fim me ajeito…” — que eu disse comigo. (…)
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28 de junho
Guimarães Rosa (GSV) – o Maligno
Eu, eu ia por meu constante palpite. Usando de toda ajuda que me vinha, mas prevenido sempre contra o Maligno: que o que rança, o que azéda. As traças dele são novas sempre, e povoadas tantas, são que nem os tins de areia grãoindo em areal. Então eu não sabia?! [Guimarães Rosa, GSV]
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28 de junho
Guimarães Rosa (GSV) – ser chefe
Ser chefe, às vezes é isso: que se tem de carregar cobras na sacola, sem concessão de se matar… [Guimarães Rosa, GSV]
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28 de junho
Guimarães Rosa (GSV) – sertão está movimentante todo-tempo
A esses muito desertos, com gentinha pobrejando. Mas o sertão está movimentante todo-tempo — salvo que o senhor não vê; é que nem braços de balança, para enormes efeitos de leves pesos… [Guimarães Rosa, GSV]