Os espinheiros já apontavam para a "presença" de uma realidade além da mera presença física, além de sua materialidade bruta, ao mesmo tempo em que indicavam algo que se desdobra diante dos olhos do narrador, por assim dizer, ali mesmo nos caules, nas pétalas, no perfume. De alguma forma, essa experiência anunciava outras mais profundas, nas quais a transubstanciação da matéria e sua alegria correspondente se mostram ainda mais intensas e manifestas. O sabor de uma madeleine mergulhada no (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Beistegui – como Proust pensa o deleite
28 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Arendt – Marcel Proust, os judeus franceses em sua época
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEscolhemos os salões do Faubourg Saint-Germain como exemplo do papel dos judeus na sociedade não judaica da França. Quando Marcel Proust — que era semijudeu e em situações de emergência estava sempre pronto a identificar-se como judeu — saiu em busca do “tempo perdido”, escreveu realmente o que um dos seus críticos mais apologéticos chamou de uma apologia pro vita sua. A vida daquele que foi o maior escritor da França do século xx foi vivida quase exclusivamente em sociedade; os eventos se (…)
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Fernando Pessoa – As ilhas afortunadas
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroQuelle voix nous parvient dans la rumeur des ondes
Qui n’est pas la voix de l’océan ?
C’est la voix de quelqu’un qui nous parle
Mais qui, si nous prêtons l’oreille, se tait
Parce que nous avons écouté.
Ce n’est que si, dormant à demi,
Sans le savoir nous avons entendu,
Qu’elle nous dit l’espérance
A laquelle, ainsi qu’un enfant
Endormi, nous sourions en dormant.
Ce sont les îles fortunées,
Ce sont les terres non situées
Où le Roi vit dans l’attente.
Mais, si nous allons nous (…) -
Fernando Pessoa – D. Fernando, Infante de Portugal
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroDieu m’a donné son glaive, pour que je fasse
Sa sainte guerre,
Me sacrant Sien en honneur et en infortune
Aux heures où un vent froid passe
Par-dessus la froide terre.
Il a posé les mains sur mes épaules, et doré
Mon front de son regard;
Et cette fièvre d’Au-delà, qui me consume,
Et cet appétit de grandeur, c’est son nom
Au-dedans de moi vibrant.
Et je vais, et l’éclat du glaive dressé donne
Sur mon visage calme.
Plein de Dieu, je ne crains pas ce qui viendra,
Et puis, vienne (…) -
Fernando Pessoa – Fernão de Magalhães
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroDans la vallée un bûcher jette ses flammes.
Une sarabande secoue la terre entière.
Par sombres lueurs, en sursaut jaillies
De la vallée, des ombres sourcilleuses
Et difformes escaladent les pentes
Pour aller se perdre dans l’obscurité.
Quelle est cette danse dont la nuit s’alarme ?
Celle des Titans, les fils de la Terre,
Qui dansent pour la mort du Capitaine
Qui voulut ceinturer le corps maternel -
Le ceinturer, d’entre les hommes le premier -
Avant de trouver sur la plage (…) -
Fernando Pessoa – Segundo: O QUINTO IMPÉRIO
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroTristesse de l’homme qui vit an logis,
satisfait de son foyer,
sans qu’un rêve, dans un envol d’aile,
fasse rougeoyer la braise
de l’âtre qu’il pourrait quitter!
Tristesse de l’homme heureux!
S’il vit, c’est que la vie s’étire.
Son âme n’abrite rien d’autre
que la leçon de la racine :
avoir un sépulcre pour vie.
Siècle sur siècle s’abolit
dans le temps qui par siècles passe.
Être insatisfait, c’est être homme.
Puisse la vision de l’âme
les forces aveugles subjuguer!
Et (…) -
Fernando Pessoa – Pensar por antíteses...
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroSabem todos que a dialéctica platônica decompõe o movimento do raciocínio em três tempos sucessivos — a tese, a antítese, e a síntese. O mesmo íntimo critério preside ao movimento da ode grega, ou de toda a ode — a estrofe, em que se determina a ideia; a antístrofe, em que se lhe opõe a ideia contrária, que a própria posição daquela exige; o epodo, em que se conciliam as duas. Nem sempre assim era na realização da ode: sempre assim deveria ser.
Toda opinião é uma tese, e o mundo, à falta (…) -
Agamben – experiência em Proust
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroPorém, a objeção mais peremptória ao conceito moderno de experiência foi levantada na obra de Proust. Pois o objeto da Recherche não é uma experiência vivida, mas justamente o contrário, algo que não foi nem vivido nem experimentado; e nem mesmo o seu subitaneo aflorar nas intermittences du coeur constitui uma experiência, a partir do instante em que a condição deste afloramento é precisamente uma oscilação das condições kantianas da experiência: o tempo e o espaço. E não são apenas as (…)
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Fernando Pessoa – Heráclito e a ideia do movimento
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroO movimento universal pode ser muito lento e assim a sensação ser possível (Rádio-Atividade) .
Heráclito diz que tudo é movimento. Mas o que é o movimento? Qualquer coisa que só pode ser concebida por oposição a substância.
Além disso, o movimento exige duas coisas: uma coisa que move e uma coisa que é movida, um motor e um móvel. — Necessita primeiro, de uma coisa para mover, porque é inconcebível que qualquer coisa possa mover-se a si própria. Necessita em seguida, de uma coisa para (…) -
Enthoven (Proust) – Amor
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroExcetuando sua variante familiar (e principalmente de mãe ou de avó), o amor é, paradoxalmente, o sentimento menos valorizado, embora o mais mencionado, em Proust. É um resquício da angústia "que emigrou (...) e se confunde com ele", um afeto sem valor próprio que só se experimenta por falta, pois só se sofre com sua ausência, como se fosse apenas a consequência de sua "sombra" grandiosa, o ciúme. A existência do amor proustiano se deduz então por ricochete ou em negativo ("amamos as pessoas (…)