O capítulo 6 considera Herman Melville o grande pensador americano da finitude humana e divina. O capítulo enfoca especialmente a transição pela qual passam as histórias marítimas de Melville na escrita de Mardi and a Voyage Thither (1849), que está bem encaminhada para Moby Dick (1851). O narrador de Mardi, acompanhado por um poeta e um filósofo particularmente loquaz, passa grande parte do tempo à deriva no Pacífico discutindo a natureza da arte e da religião, o problema do livre arbítrio (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
-
Melville (Krell)
27 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Melville – Problema do bem e do mal (Arendt)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEra talvez inevitável que o problema do bem e do mal, de seu impacto sobre o curso dos destinos humanos, em sua simplicidade crua e sem sofisticação, assombrasse a mente dos homens no exato momento em que afirmavam ou reafirmavam a dignidade humana sem qualquer recurso à religião institucionalizada. Mas a profundidade desse problema dificilmente poderia ser sondada por aqueles que confundiam bondade com a ‘repugnância natural e inata do homem em ver seus semelhantes sofrerem’ (Rousseau), e (…)
-
Melville – Billy Budd (Arendt)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAgir com deliberada rapidez vai contra a essência do ódio e da violência, porém, isso não os torna irracionais. Muito pelo contrário, tanto na vida pública como privada há situações onde a própria rapidez de uma ação violenta seja talvez o único remédio adequado. A questão não é que uma tal ação nos permite dar vazão aos nossos impulsos reprimidos – o que pode ser feito com a mesma eficácia se esmurrarmos a mesa ou batermos a porta. A questão é que em certas circunstâncias a violência – (…)
-
Arendt – grandes vilões e o mal
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEstaríamos numa situação um pouco melhor se nos permitíssemos voltar os olhos para a literatura, para Shakespeare, Melville ou Dostoiévski, nos quais encontramos os grandes vilões. Eles também podem ser incapazes de nos dizer alguma coisa específica sobre a natureza do mal, mas pelo menos não se furtam ao problema. Sabemos, e podemos quase ver, como o mal assombrava a mente deles constantemente, e como estavam bastante cientes das possibilidades da maldade humana. Ainda assim me pergunto se (…)
-
Byung-Chul Han – Bartleby de Melville
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroO relato de Melville’s “Bartleby”, que foi objeto de diversas interpretações metafísicas ou teológicas, admite também uma leitura patológica. Essa “história provinda da Wall Street” descreve um universo de trabalho desumano, cujos habitantes, todos eles, são degradados a animal laborans. Apresenta-se detalhadamente a atmosfera sombria, hostil do escritório espessamente rodeado de arranha-céus. A menos de três metros ergue-se “alto o muro de tijolos, que se tornou preto por causa da idade e (…)
-
Comédia (Gelven, 2000)
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroA essência da comédia não é meramente a tolice agraciada, pois essa maravilhosa combinação também ocorre além das artes. Portanto, somos obrigados a refinar a sugestão: a comédia é a síntese realizada da graça e da tolice, na qual a própria performance, como aquilo que liga a tolice à graça, é uma instância da verdade. Parte do valor da arte cômica é, de acordo com essa sugestão, o alegre aprendizado da verdade inacessível de qualquer forma fora do fenômeno dramático. Uma vez que a (…)
-
Horto do Esposo
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroHorto do Esposo — MARIO MARTINS
Excertos de "Introdução Histórica à Vidência do Tempo e da Morte"
DESTEMPORALIZAÇÃO
Poderíamos analisar uma multidão de obras, mas limitamo-nos ao Horto do Esposo, uma das mais significativas, pelo negativismo inicial da maioria das suas páginas, aliás compensado pela sua finalidade transcendente e positiva. E o facto de tal obra ser principalmente uma vasta rapsódia, à base de autores lidos na Idade Média, transforma-a em símbolo duma grande corrente de (…) -
Horto do Esposo I
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroHorto do Esposo — MARIO MARTINS
Antes de mais nada, uma pequena mas necessária divagação. Temos, em filosofia, o «mal metafísico», a negação de perfeições indevidas a tal ou tal ser. Um cavalo não tem a beleza alada da borboleta nem a inteligência do homem. Este não-ter constitui um mal metafísico. Por sua vez, a borboleta não possui a força do cavalo, nem a sua capacidade de viver longos anos. Enfim, o homem não tem a inteligência perfeita dos anjos.
Neste sentido, o mal metafísico é (…) -
Horto do Esposo II
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroHorto do Esposo — MARIO MARTINS
Como escapar a este doloroso fluir das coisas amadas? Temos uma saída drástica: Destemporalizar-nos! Pensar, amar e realizar a nossa eternidade. Desenraizar-nos deste mundo e caminhar internamente para Deus e para o que não muda, seguindo a nossa vocação essencial de peregrinos, de caminhantes.
E aqui surge a função espiritual da dor, essa mão implacável que nos arranca do mundo e das coisas. Bem-aventurados os cegos, os surdos, os infelizes, porque Deus (…) -
Horto do Esposo III
26 de junho, por Murilo Cardoso de CastroHorto do Esposo — MARIO MARTINS
E é neste ponto que surge, no Horto do Esposo, a parábola do unicórnio cristianizada na legenda de S. Barlaão e S. Josafá.
Viver é um durar precário, constantemente roído pelo tempo, e todos somos reservados e guardados pera a morte. Ainda mais: todos morremos e assy escorremos como a água êna terra. É o fluir da existência, o ir-passando.
E tal ir-passando abrange também o mundo, que morre em si ou, pelo menos, morre para nós. Nada há de estável e tudo (…)