Signorile1993
A aparente desordem e a repetição temática [nos Cahiers de Valéry] são inicialmente desconcertantes, ainda mais porque essa é uma filosofia profundamente racionalista e móvel. A todo momento, o leitor é convidado a traçar um paralelo entre o racionalismo de Descartes e o evolucionismo de Bergson.
Mas se, em ambos, Valéry considera a Razão o princípio e o movimento o instrumento, as observações relacionadas a construir, fazer e criar dão o tom da filosofia de Valéry, além de (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
-
A aparente desordem dos Cahiers de Valéry
15 de abril, por Murilo Cardoso de Castro -
Unidade da filosofia de Valéry
15 de abril, por Murilo Cardoso de CastroSignorile1993
A unidade da filosofia de Valéry não é imediatamente óbvia. A profusão e a aparente desarticulação dos Cahiers, bem como a recusa do autor em explicitar publicamente os principais princípios filosóficos de seu pensamento, são duas razões para isso.
De fato, a impressão de desordem que surge ao entrar em contato com esse corpus está correlacionada com a escrita fragmentária e os múltiplos temas abordados. Por outro lado, sua pesquisa e seu jízo voluntariamente crítico, por (…) -
Goethe – Fausto e Helena
1º de abril, por Murilo Cardoso de Castro(Hadot2018)
“Então o espírito não olha nem para frente, nem para trás. Só o presente é nossa felicidade”. Quando, no Fausto II, o herói de Goethe pronuncia essas palavras, parece haver alcançado o ponto culminante de sua “busca da mais elevada existência”. A seu lado, no trono que fez erguerem para ela, está sentada Helena, aquela cuja beleza esplêndida ele entreviu no espelho da cozinha da feiticeira, aquela que, para entreter o Imperador, ele evocou no primeiro ato, após uma assustadora (…) -
Goethe, luz irradiada pelas obras-primas
1º de abril, por Murilo Cardoso de Castro(Deghaye2000)
Assim, quando Goethe fala da luz irradiada pelas obras-primas, ele imita uma tradição religiosa. No entanto, os trovões e relâmpagos que acompanham o nascimento de Cristo exigem uma reflexão. Certamente, pode-se simplesmente dizer que houve uma tempestade, o que é verdadeiro, pois Goethe o especifica. Mas essa tempestade não teria um sentido simbólico?
O leitor desavisado pode pensar que essa anotação de Goethe não combina com a tradição religiosa. De fato, o nascimento de (…) -
Goethe, Dichtung und Wahrheit
1º de abril, por Murilo Cardoso de Castro(Deghaye2000)
Ao ler este relato, somos levados a interpretar retrospectivamente a reação de Goethe quando, ainda jovem estudante em Leipzig, ele visitou o museu de Dresden. O discípulo de Friedrich Oeser, que pregava o evangelho do Belo sob a invocação de seu amigo Winckelmann, não deveria se apressar em direção às obras antigas? Pois bem, não. Ele também não foi ver a Madona Sistina, que Winckelmann, apesar de seu "paganismo", muito curiosamente considerava como a obra-prima da imitação (…) -
Goethe, Viagem à Itália
1º de abril, por Murilo Cardoso de Castro(Deghaye2000)
Em Viagem à Itália, Goethe frequentemente se expressa como os místicos. Os espirituais cristãos atribuem grande importância à noção de segunda-nascença. Encontramos essa ideia nos escritos de Goethe, que repete o termo com demasiada predileção para não lhe atribuir certa realidade. Qual seria? Certamente não é a mesma de um tratado de teologia mística, mas, em um plano diferente, podemos aceitar uma equivalência. Goethe sente forças vivas atuando na raiz de sua personalidade, (…) -
Goethe e as artes plásticas
1º de abril, por Murilo Cardoso de Castro(Deghaye2000)
Assim, em vez de enxergar em Goethe um amador pouco talentoso que insistia em perseguir a quimera de uma arte para a qual não tinha verdadeira vocação, preferimos considerar sua reflexão estética segundo sua finalidade própria, que parece, antes de tudo, responder a uma preocupação literária.
A especulação sobre as artes plásticas se insere em uma evolução que, propriamente falando, não é a de um pintor, nem de um escultor, nem mesmo de um verdadeiro historiador da arte. (…) -
Werther, Goethe
1º de abril, por Murilo Cardoso de Castro(Deghaye2000)
Goethe havia sido consagrado poeta pelos sucessos que muito cedo havia conquistado. No entanto, ele acreditou por muito tempo que sua vocação era dupla. Ele se considerava verdadeiramente predestinado às belas-artes. Foi apenas em 1788, na Itália, que sua desilusão foi total.
Certamente, Goethe sentiu, muito antes, uma certa ambiguidade. Werther é testemunha disso. Sua história é essencialmente a de um artista atingido pela esterilidade e que não se reconhece como poeta. (…) -
Possibilidades angélicas do amor humano em Dante
31 de março, por Murilo Cardoso de Castro(PLW1980)
Poder-se-ia dar centenas de outros exemplos da poesia persa, na qual nunca se pode dizer com certeza se o ’amado’ a quem se dirige é humano ou divino — precisamente porque ele ou ela é ambos ao mesmo tempo. Certamente tal figura, que assim medeia para o amante entre este mundo e o céu, merece acima de todos os outros ser chamada de Anjo.
No Ocidente cristão, com sua ênfase em uma única e suprema manifestação do Divino em forma humana, podemos perder esse senso das (…) -
Uma nova humanidade na obra de Hermann Hesse
30 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Deghaye2000)
O projeto de uma nova humanidade é antigo na obra de Hesse. Está ligado ao declínio da humanidade presente que Hesse personifica quando fala da Europa. Para ele, a humanidade não é um coletivo, é sempre uma pessoa. O mesmo se aplica à Europa. É essa pessoa que morre e renasce.
Em um artigo de 1920, Hesse fala de uma doente que é a Europa. A psicanálise mostra que essa velha Europa, cuja cultura desmoronou, é uma grande neurótica: ein schwerkranker Neurotiker. Eis, portanto, (…)