Terei que voltar ainda, várias vezes, a essa “Casa-Forte da Onça Malhada”, importantíssima em nossa história, assim como à Capela de paredes recobertas por pinturas estranhas — Demônios esverdeados, Santos com mantos castanho-vermelhos que pareciam incêndios, dragões negro-vermelhos e brasões, coisas de que depois falarei melhor. Devo fazer, porém, agora, uma referência ao pé de Cajarana, que ficava junto à esquina da calçada de pedras da casa. Era uma árvore enorme, venerável, velhíssima, (…)
Página inicial > Palavras-chave > Autores e Obras > Suassuna
Suassuna
Ariano Suassuna (1927-2014)
Matérias
-
Suassuna (RPR) – vida é um jogo estranho
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de Castro -
Suassuna (Pedra do Reino) – da "desconhecença" para a "sabença"
30 de junho, por Murilo Cardoso de CastroHÁ MUITO TEMPO que eu desejava me instruir sobre aquela profunda Filosofia clementina, para me ajudar em meus logogrifos. Por isso, avancei:
— Clemente, esse nome de “penetral” é uma beleza! É bonito, difícil, esquisito, e, só por ele, a gente vê logo como sua Filosofia é profunda e importante! O que é que quer dizer “penetral”, hein?
Clemente, às vezes, deixava escapar “vulgaridades e plebeísmos” quando falava, segundo sublinhava Samuel. Naquele dia, indagado assim, respondeu:
— Olhe, (…) -
Suassuna (Pedra do Reino) – sentir com as ideias
30 de junho, por Murilo Cardoso de Castro[...] "olhando em torno e procurando sentir com as ideias aquilo que já pensara com o sangue." Uma contundente declaração do imediato do sangue e de seu "pensar" e do narrativo das ideias contadas para serem sentidas. E, ainda mais, a fantástica constatação "de que o mundo era um Bicho sarnento [a Onça] e os homens os piolhos e carrapatos chupa-sangue que erram por entre seus pelos pardos, sobre seu couro chagado, escarificado e feridento, marcado de cicatrizes e peladuras, e queimado a fogo (…)
-
Suassuna (Pedra do Reino) – Diabo
30 de junho, por Murilo Cardoso de CastroUMA PERGUNTA, Dom Pedro Dinis Quaderna: o senhor acredita no Diabo? — Como é que posso não acreditar, Sr. Corregedor? Ainda agora, quando eu vinha para cá, ele apareceu ao irmão do Comendador Basílio Monteiro, ali, no monturo da areia do rio, perto do Chafariz! Eugênio Monteiro estava me lembrando quantas vezes, aqui no Sertão, a gente encontra, nessas chapadas nuas e pedregosas, seres alados e perigosos, cruéis e sujos, bicando os olhos dos borregos e cabritos! Quem são eles? Gaviões? (…)
-
Suassuna (Pedra do Reino) – um pequeno rabo judaico-sertanejo, o cotoco
30 de junho, por Murilo Cardoso de Castro— Apesar de tudo isso, no meu caso particular, com todo o orgulho judaico-sertanejo, mouro-vermelho e negro-ibérico que sinto, o cotoco me prejudica e muito! Primeiro, ele existe mesmo, em mim, Sr. Corregedor: no fim das minhas costas, o osso que fica entre as duas bundas, tem uma pequena saliência, um pequeno rabo judaico-sertanejo, o cotoco enfim! Depois, não sei se por causa do osso, ou porque a dose de sangue judaico que eu tenho é maior do que a dos paraibanos comuns, o fato é que a (…)
-
Suassuna (Pedra do Reino) – três sangues dentro do homem
30 de junho, por Murilo Cardoso de Castro— Não, não é isso o que eu dizia não, Dinis! Momentos de medo, como esse que você diz, todo mundo tem! Agora mesmo é um desses: você está ameaçado, apavorado! E tem razão para isso, porque você é um homem marcado, faça o que fizer e fuja como fugir! Momentos como esses são os de se gritar para Deus, dizendo: “Tome suas providências! Tome, porque no meu aniquilamento, não sou capaz de fazer mais nada! E mesmo que ainda pudesse tomar algumas, seriam as providências da fraqueza, da maldade, da (…)
-
Suassuna (Pedra do Reino) – Mundo
30 de junho, por Murilo Cardoso de Castro[...] nos meus momentos mais ensolarados de devaneio, o próprio Mundo me aparece como uma larga estrada sertaneja, um Tabuleiro seco e empoeirado, onde, por entre pedras, cactos e espinhos, desfila o cortejo luminoso e obscuro dos humanos — Reis, valetes, Rainhas, cavalos, torres, Curingas, Damas, peninchas, Bispos, ases e Peões. Todo este meu Castelo e os acontecimentos que nele sucedem para sempre, me aparecem com o elemento festivo e sangrento dos sonhos, como a encenação de um espetáculo (…)