Que relação haverá entre o mundo mitológico (com tudo o que ele contém, ou continha, num horizonte aparentemente perdido) e o mundo em que existe Deus, o Homem e a Natureza? Esta era a segunda pergunta.
O mundo em que nós vivemos e, sobretudo, aquele que nós pensamos, não parece que ainda seja o mundo da mitologia (a não ser que contemos com aquele que a alguns é dado entrever, por distração, em sonhos sonhados no limiar da vigília, ou através do êxtase natural ou provocado), mas sim, o da (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
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Eudoro de Sousa – Física na Mitologia e na Filosofia
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de Castro -
Eudoro de Sousa – O Simbólico
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroExaminemos a questão noutra perspectiva. Uma das portas de acesso ao mundo mítico é a reflexão sobre o simbólico. Se há uma realidade simbólica - aquela, cuja expressão mais adequada é o mito - é ela constituída por entes fluidos e translúcidos; de tal maneira fluidos, que indistinto se torna o limite entre o ser humano e o ser divino, entre o ser divino e o ser natural, entre o ser natural e o ser humano; e de tal maneira translúcidos, que através do ser homem transparece o ser animal ou o (…)
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Eudoro de Sousa – Personagens da Mitologia
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroSem dúvida, nos termos em que a expressamos, esta noção de mundo mítico é meramente negativa. O que mais importaria saber não é o que os personagens da mitologia não são, mas sim o que eles são. Repare-se, todavia, que o «não ser Homem», o «não ser Deus» e o «não ser Natureza» já apontam, embora insegura e confusamente, para o ser que esses não-seres são. Admitamos, ainda que com mui compreensível timidez, que o não ser Homem é ser «homens», que o não ser Deus é ser «deuses» e que o não ser (…)
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Eudoro de Sousa – Mundo Mitológico
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroNa Grécia, assim poderia ter sucedido: uma religião, cuja essência própria implicava - em conformidade, evidentemente, com o que a história nos expõe - a qual, como mitologia emergente de uma religião que por natureza sua, havia de ceder o lugar a uma filosofia, já era, ela mesma, filosofia. Não, porém, ou não ainda, a filosofia que a religião viria a ser no ponto que se reputa como o mais alto da sua história. A filosofia que, a seu modo, a mitologia grega já é, não se exprime senão através (…)
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Eudoro de Sousa – Mitologia Grega, physiomythia
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroA mitologia grega é, pois, uma physiomythía, que ainda não é a physiologia dos filósofos, para os quais, após a teoria da natureza, vem uma teoria do homem e, por fim, uma teoria da divindade. Decerto que há uma «filosofia do mito» (título de uma obra de M. Untersteiner, 1946, 1.a ed.). Mas entendemos bem o que esta expressão deveria significar. Fisiologia do mito não é uma fisiologia para a qual o mito aponta, uma fisiologia que o mito «quer dizer», mas não diz, porque só a filosofia o pode (…)
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Eudoro de Sousa – Física, primeira filosofia
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroA Física (que certamente começou além dela, numa metafísica com traços semelhantes aos de determinados mitos teocosmogônicos) é a primeira filosofia que a religião grega veio a ser. Por conseguinte, a mitologia grega é a mitologia emergente de uma religião, a cuja essência pertence o vir a ser, em primeiro lugar, uma física (ou melhor: uma physiomythia), i. é, certa imagem da natureza. Contudo, lembremo-nos, a física que a religião grega veio a ser, de Tales a Anaxágoras, não se extrai da (…)
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Eudoro de Sousa – Religião grega, matriz da mitologia e da filosofia
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroA religião grega, aqui, suposta matriz da mitologia e da filosofia, constitui-se, pois, como uma religião que, toda ela, se oculta em sua progênie. Dir-se-ia até que o próprio ser da religião grega reside nesse mesmo ocultar-se em sua descendência. E, inversamente, na Grécia, a mitologia e a filosofia não emergem à luz do sol (história, consciência), senão enquanto a religião imerge nas sombras da noite (pré-história, inconsciente). A poesia e a filosofia devoram a religião, nutrem-se do (…)
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Eudoro de Sousa – Filosofia Grega e Consciência Religiosa
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroQue a filosofia grega nos pode aparecer como forma sui generis da consciência religiosa, inclusive, como pretendendo substituí-la, é o que se nos mostra em vários momentos da sua história, em especial, no princípio e no fim, se é que, a propósito de «filosofia grega», ainda se pode falar de um fim ou de um término. Mas a lição mais instrutiva que desse fenômeno nos é dado extrair, é que houve outrora uma religião, i. é, certa consciência da presença dos deuses no mundo, ou além dele, que (…)
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Eudoro de Sousa – Mitologia Grega
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroA mitologia grega, originalmente mitologia que emerge da religião grega, não seria qualquer mitologia, mitologia num conceito demasiado abrangente, mas tão-só aquela que a religião dos gregos podia gerar, e outro tanto se diga da filosofia grega, a qual, como filosofia emergente da religião, não seria qualquer filosofia, pura e simplesmente filosofia, mas só aquela que da religião dos Gregos podia ter nascido. Contudo, acrescente-se que a religião grega também não podia ser qualquer (…)
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Eudoro de Sousa – Primórdios da Religião Grega
19 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroSe a religião grega, considerada em si mesma, ou recolocada em sua ambiência mediterrânea, tem uma história, essa parece situar-se entre uma Fulgurância que desvela o mundo, todo ele, ou o que ele contém de mais valioso, como proveniente e resultante de um deicídio primordial, cuja projeção antropológica se encontraria no regime de vida dos primitivos agricultores de tuberosas (depois, ou simultaneamente, nos de cereais), e outra que revelaria a existência de um mundo que, (…)