Era tarde quando bebemos. Todos pensávamos que já era mais do que hora de começar. Do que havia antes, ninguém mais se lembrava. Apenas se dizia que já era tarde. Saber de onde cada um vinha, em que ponto do globo estávamos, ou mesmo se era realmente um globo (e de qualquer forma não era um ponto), e o dia do mês de qual ano, tudo isso nos escapava. Não se levantam tais questões quando se tem sede.
Quando se tem sede, busca-se as ocasiões de beber e, quanto ao resto, apenas se finge (…)
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René Daumal – Diálogo laborioso sobre o poder das palavras (1)
1º de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
René Daumal – Diálogo laborioso sobre o poder das palavras (3)
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroNum certo momento, o mau humor atingiu seu ápice e creio lembrar que alguns de nós combinamos, com ferramentas imprecisas, bater nos valentões que roncavam nos cantos. Passou-se um tempo interminável, após o qual os valentões voltaram, carregando barris sobre suas equimoses. Quando os barris foram esvaziados, pôde-se finalmente sentar sobre eles, ou ao lado, mas enfim estávamos sentados, prontos para beber e ouvir, pois havia sido mencionado torneios oratórios ou algum divertimento desse (…)
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René Daumal – Diálogo laborioso sobre o poder das palavras (4)
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroTendo o Araucaniano bebido, fez-se um grande silêncio. Então uma velha senhora gritou secamente:
— Nada de truques de mágica aqui! Queremos explicações. Quem quebrou o violão? E como? E por quê?
— Nada de truques científicos — gritou Otelo com sua voz metálica, espuma nos lábios. Nada de truques científicos, hein? Mas explicações mágicas!
— Bebamos primeiro — pronunciou lentamente o homem por trás dos feixes de lenha. Depois, farei todos adormecerem com um discurso mais ou menos (…)