(Safranski2010)
Curioso, Hoffmann adentra um campo de batalha próximo a Dresden, durante as guerras de libertação, com um copo de vinho na mão. A estética do horror como reação ao pavor. Ou ele é um voyeur, ou se afasta; em ambos os casos a fantasia está em jogo. Enquanto a batalha por Dresden ainda está em curso, ele começa em 1813 com O caldeirão dourado, o “conto de fadas dos tempos modernos”, como declara o subtítulo.
O estudante Anselmus está sentado ao lado do rio Elba, perto de (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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O caldeirão dourado de Hoffmann
29 de março, por Murilo Cardoso de Castro -
W. B. Yeats
28 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Zolla2024)
Entre os grandes nomes do século XX, Yeats é o mais imbuído de doutrinas e experiências esotéricas. É assim de forma declarada e íntima. No entanto, houve uma recusa feroz em reconhecê-lo, fechamo-nos na avaliação dos seus ritmos, das suas cores, das suas fontes literárias.
Chegou ao ponto em que Auden argumentou que era necessário remover vantajosamente qualquer influência esotérica da poesia Yeatsiana, que Eliot em Depois de Deuses Estranhos declarou o esoterismo um (…) -
Evolucionismo e Ciência em Melville
28 de março, por Murilo Cardoso de CastroZolla2024
O próprio evolucionismo é uma tentativa de reduzir uma teoria das formas orgânicas a um desenvolvimento verificável; para os antigos, o crescimento das formas orgânicas, do esqueleto humano desde a forma primordial da vértebra, passando pelas diversas fases bestiais, até a coluna ereta do homem, coroada pelo crânio, era uma metáfora frequente da evolução espiritual. Essa teoria foi reduzida da morfologia a um esquema historiográfico, como pode ser visto nesta passagem Observações (…) -
Northrop Frye – Visualizar é realizar
27 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Frye1947)
Derivamos da experiência sensorial o poder de visualizar... não visualizamos de forma independente dos sentidos... Mas o que vemos aparecer diante de nós na tela não é uma reprodução da memória ou da experiência sensorial, mas uma nova e independente criação. O "visionário" é aquele que passou pela visão e alcançou o imaginário, nunca o que evitou ver, que não se treinou para ver claramente ou que generaliza entre suas memórias visuais acumuladas... Visualizar, portanto, é (…) -
Northrop Frye – Experiência sensorial
27 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Frye1947)
A experiência sensorial em si é um caos e deve ser empregada ativamente pela imaginação ou passivamente pela memória. A primeira é um método deliberado, e a última um método aleatório de criar uma forma mental a partir da experiência sensorial. O homem sábio escolherá o que quer fazer com suas percepções, assim como escolherá os livros que deseja ler, e suas percepções, portanto, serão carregadas de um significado inteligível e coerente... Torna-se, então, óbvio que o produto da (…) -
Northrop Frye – Quanto mais unificada for a percepção...
27 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Frye1947)
Portanto, se a existência está na percepção, a árvore é mais real para o homem sábio do que para o tolo. Da mesma forma, é mais real para o homem que joga toda a sua imaginação por trás de sua percepção do que para o homem que cautelosamente tenta podar diferentes características dessa imaginação e isolar uma. Quanto mais unificada for a percepção, mais real será a existência. Blake diz: "‘O quê,’ será Perguntado, ‘Quando o Sol nasce, você não vê um disco redondo de fogo algo (…) -
Northrop Frye – Percepção, ato mental
27 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Frye1947)
Utilizamos cinco sentidos na percepção, mas se usássemos quinze, ainda teríamos apenas uma única mente. O olho não vê: o olho é uma lente para a mente observar através dela. A percepção, então, não é algo que fazemos com nossos sentidos; é um ato mental. Contudo, é igualmente verdadeiro que as pernas não andam, mas que a mente faz as pernas caminharem. Portanto, não pode haver distinção entre atos mentais e corporais... A única objeção a chamar atividades como digestão ou (…) -
Northrop Frye – Memórias sombrias, espectros
27 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Frye1947)
A reflexão sobre a sensação está preocupada apenas com a mera memória da sensação, e Blake sempre se refere à reflexão de Locke como "memória". A memória de uma imagem deve sempre ser inferior à percepção da imagem. Assim como é impossível fazer um retrato de memória tão bem quanto da vida, também é impossível que uma ideia abstrata seja mais do que uma ideia subtraída, uma pós-imagem vaga e nebulosa... A "reflexão" de Locke é projetada para afastar o sujeito do objeto, (…) -
Northrop Frye – Literatura pertence ao mundo
27 de março, por Murilo Cardoso de Castro(NFIE)
O ponto simples é que a literatura pertence ao mundo que o homem constrói, e não ao mundo que ele vê; pertence ao seu lar, e não ao seu ambiente. O mundo literário é um mundo humano concreto de experiência imediata. O poeta usa muito mais imagens, objetos e sensações do que ideias abstratas; o romancista se preocupa em contar histórias, não em estruturar argumentos. O mundo da literatura é humano em sua forma: é um mundo onde o sol nasce a leste e se põe a oeste por sobre a borda de (…) -
Goethe – tudo o que é factual já é teoria
21 de março, por Murilo Cardoso de CastroComo escreveu Goethe, “o apogeu seria compreender que tudo o que é factual já é teoria. (...) Que não se busque simplesmente nada por trás dos fenômenos: eles mesmos são a teoria” (Maximen und Reflexionen, § 575). Ou ainda: “(...) E inútil procurarmos expressar a natureza de uma coisa. Percebemos efeitos, e a história completa desses efeitos sem dúvida englobaria a natureza da coisa. Em vão nos esforçamos por retratar o caráter de um ser humano; reunamos, ao contrário, seus modos de agir, (…)