(Panofsky2019)
Tudo o que Dürer nos diz sobre sua gravura está numa inscrição em um esboço do "putto" (Figura 8), explicando o significado da bolsa e do molho de chaves pendurados no cinto da Melancolia: "A chave significa poder, a bolsa riquezas."
Essa breve frase tem sua importância, pois estabelece um ponto que já seria suspeitável: a conexão da gravura de Dürer com a tradição astrológica e humoral da Idade Média. Ela revela dois traços essenciais do caráter tradicional que, para (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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"Melancolia" de Dürer, segundo Panofsky (1)
29 de março, por Murilo Cardoso de Castro -
"Melancolia" de Dürer, segundo Cioran
29 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Cioran1995)
Entre todas as obras de Dürer, a gravura intitulada Melancolia é a que mais contém elementos propícios à reflexão e ao abandono que podemos experimentar ao mergulhar na atmosfera de uma obra de arte. Minha admiração não se deve a uma apreciação objetiva da forma, mas à alegria suscitada por uma criação que expressa um estado de alma em si mesmo. Aqui, o psiquismo prevalece sobre a técnica. A melancolia opera uma dualidade: separa o homem de seu entorno e da realidade em geral, (…) -
Dürer é o profeta de Cioran
29 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Cioran1995)
Dürer é meu profeta. Quanto mais contemplo o desfile dos séculos, mais me convenço de que a única imagem capaz de revelar seu sentido é a dos Cavaleiros do Apocalipse. Os tempos só avançam esmagando, pisoteando as multidões; os fracos perecerão, não menos que os fortes, e até mesmo esses cavaleiros — exceto um. É por ele, por sua terrível fama, que os séculos sofreram e gritaram. Eu o vejo crescer no horizonte, já percebo nossos gemidos, até nossos gritos já ouço. E a noite (…) -
Dürer – O Cavaleiro, a Morte e o Diabo (2)
29 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Bertram1932)
E até a Genealogia da Moral, em 1887, retoma visivelmente o símbolo düreriano d’O Nascimento da Tragédia, ao falar de um "espírito que só a si mesmo se deve, como Schopenhauer", um "homem e cavaleiro de olhar de bronze, que tem a coragem de ser si mesmo, que sabe ser independente".
É um "símbolo de sua existência" que aqui lhe fala, a ele que sempre sentiu precisar de "uma espécie de arte especial": o símbolo de um "pessimismo germânico" que não é cético nem romântico, mas (…) -
Dürer – O Cavaleiro, a Morte e o Diabo (1)
29 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Bertram1932)
Que prestígio mágico, então, o jovem Nietzsche atribuía a essa gravura em detrimento de todas as outras (enquanto, sintomaticamente, não temos dele nenhum testemunho sobre a Melancolia, exceto alusões em dois poemas de julho de 1871, embora a devoção a Wagner a tivesse tornado mais próxima dele)? Que feitiço ainda o prendia a ela, mesmo após ter superado Schopenhauer e Wagner?
Dentre as respostas de Nietzsche a essa pergunta, a primeira cronologicamente é também a mais (…) -
O termo "romântico"
29 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Angelloz1973)
O termo "romântico" tem uma longa pré-história ). Originalmente, deriva de "Romanz", que desde 1135 designava a língua vulgar falada na França entre o baixo-latim e o francês moderno, bem como o romance ou obra ficcional. Mas foi na Inglaterra que surgiram as formas "romant/romaunt" e "romantic/romantik", já em 1650 com T. H. Bayly, ou em 1652 com F. Greville (segundo Baldensperger), e depois com Smith em 1659. Nesse contexto, a palavra assumia o sentido de imaginário, (…) -
Romantismo, delimitação segundo Dilthey
29 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Gusdorf1982)
A historiografia serena [do Romantismo] começa em 1865 com o estudo de Dilthey (1833-1911) sobre Novalis, uma interpretação abrangente da breve carreira do poeta, que desenvolve os aspectos fundamentais de sua visão de mundo. O estudo sobre Novalis, junto com outros textos dedicados a Lessing, Goethe e Hölderlin, formará a coletânea Das Erlebnis und die Dichtung (Experiência de Vida e Criação Poética), publicada pela primeira vez em 1905, oferecendo uma interpretação global (…) -
Romantismo, problemas de delimitação
29 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Bornheim1956)
I — Um dos maiores problemas que nos propõe o romantismo é o de sua delimitação. Por um lado, a interpretação do romantismo é reduzida, frequentemente, a limites cronológicos estreitos, tendendo a esgotar-se em manifestações mera e simplesmente literárias; o problema sofre, assim, uma simplificação injustificável. Por outro lado, em um extremo oposto, há autores que pretendem encontrar, senão movimentos, ao menos traços ou tendências românticas através de toda a história da (…) -
Monstruosidade em O Vaso de Ouro de Hoffmann
29 de março, por Murilo Cardoso de CastroMonstruosité ? dans Le Vase d’or de E.T.A. Hoffmann. Florence Hafner, doctorante
"Monstruosidade" e "monstro" derivam ambos da palavra latina monstrum. Consultando o Dicionário Etimológico da Língua Latina de Ernout e Meillet, descobrimos que, originalmente, monstrum significa "sinal enviado pelos deuses", "prodígio" e, posteriormente, "objeto ou ser de caráter sobrenatural". Nesse sentido, não é necessário que o prodígio seja assustador para ser considerado monstruoso. Embora seja (…) -
O Vaso de Ouro de Hoffmann
29 de março, por Murilo Cardoso de CastroMonstruosité ? dans Le Vase d’or de E.T.A. Hoffmann. Florence Hafner, doctorante
Foi durante a campanha da Alemanha por Napoleão (e especialmente a derrota alemã em Dresden) que Hoffmann escreveu o conto. Ele viu nisso uma motivação adicional para escrevê-lo, refugiando-se em um mundo idílico durante horas sombrias. Em uma carta dirigida ao seu editor Kunz, datada de 19 de agosto de 1813, ele escreve: « É como se eu abrisse as portas de um reino maravilhoso, surgido de meu íntimo, e que, (…)