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Fernando Pessoa – Soneto I
domingo 29 de junho de 2025
Sonnet I
Se escrevemos ou falamos ou apenas olhamos,somos sempre inaparentes. O que somosnão pode ser trasfundido em palavra ou livro.Nossa alma está infinitamente longe de nós.Por mais que demos a nossos pensamentos a vontadede ser nossa alma e a gesticulem por aí,nossos corações permanecem incomunicáveis.No que mostramos de nós, somos ignorados.O abismo de alma a alma não pode ser transpostopor qualquer habilidade de pensamento ou artifício de aparência.Até para nós mesmos somos limitadosquando tentamos expressar ao pensamento nosso ser.Somos os sonhos que temos de nós mesmos, almas por lampejos,e cada um para o outro sonha os sonhos dos outros.