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Nancy (Scène) – o texto teatral

segunda-feira 30 de junho de 2025

[...] o texto teatral deve estar, enquanto texto, já no jogo, já em uma cena (vê-se claramente que esse é o próprio princípio do dispositivo de escrita de uma peça de teatro, com os nomes dos personagens situados fora da sintaxe do texto; mas além disso, trata-se de muitos outros traços de escrita, que eu seria incapaz de formular) – tanto quanto, parece-me, na outra extremidade, a da execução teatral pública, provavelmente nunca é simples separar o “espetáculo” do “jogo” nos sentidos em que os colocas. Quero dizer que há também, necessariamente, algo de espetacular no jogo da enunciação, e que pode haver ainda enunciação mesmo no mais “acessório” ou mais “brilhante” do espetacular. Isso poderia ser chamado, para carregar, de “questão do brilho falso”: o brilho falso, o “falso luxo”, não tem apenas seu uso no cabaré (e, aliás, o próprio cabaré…?). Há talvez “falsidade” em todo teatro. Os Gregos, se ainda for necessário referir-se a eles, sabiam muito melhor do que nós lidar com todo tipo de artifícios grosseiros (ainda que “lidar” talvez não seja o termo exato). Aristóteles foi o primeiro deles – o que não o impedia de ter do teatro o pensamento que mencionas.

É por isso que não estou certo de poder me contentar com as demarcações que traças entre uma “figuração” que permanece fiel à enunciação e ao jogo, e uma “petrificação” ou um “espessamento” da figura. Esse tipo de oposição sempre deixa na sombra a linha de demarcação: onde é que isso se “petrifica”? Penso que responderias com exemplos precisos. Terias razão: mas isso também mostraria que não há jurisdição a priori para isso. Talvez seja necessário dizer que é uma questão de gosto – mas num sentido o menos subjetivista e relativista possível. Aí haveria todo um novo capítulo a abrir.


Ver online : LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc. Scène suivi de Dialogue sur le dialogue. Paris: C. Bourgois, 2013